Entenda sobre o que é dor e quais são suas particularidades.
Quando você está cozinhando e sem querer, queima a mão na panela, a reação imediata é retirá-la do objeto quente e, logo em seguida, vem a sensação de dor que pode persistir por alguns dias no local. Mas por que sentimos essa dor?
A dor é uma resposta fisiológica protetora, que ajuda o organismo a detectar e minimizar o contato com estímulos perigosos, além de ser um sinal de alerta, mostrando que aquela região danificada precisa de tratamento. A dor é fundamental para a sobrevivência humana, visto que indivíduos com a doença rara conhecida como insensibilidade congênita a dor acabam apresentando fraturas ósseas, múltiplas cicatrizes, amputações, automutilação, deformidades nas articulações e morte precoce devido à ausência da sensação de dor causada por estímulos que são perigosos à saúde.
Além disso, a percepção da dor é intrínseca ao indivíduo, ou seja, cada ser vivo apresenta uma percepção única em relação a dor e que pode ser influenciada por fatores sociais, biológicos e psicológicos. Quando a dor é caracterizada por um tempo de permanência curto, que é decorrente do processo de resolução da inflamação causada pela lesão no tecido, denomina-se dor aguda.
Recentemente, a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP, do inglês International Association for the Study of Pain) revisou a definição de dor, descrevendo-a como “uma experiência sensorial e emocional desagradável associada, ou semelhante àquela associada, a um dano real ou potencial ao tecido”. Nessa nova definição, o IASP incluiu a dor crônica, que diferentemente da dor aguda, é considerada uma doença em que a sensação desagradável persiste por mais tempo que o necessário para a ocorrência da cicatrização, que geralmente é considerado o período superior a três meses de duração.
Segundo uma pesquisa da Global Burden of Disease (GBD) realizada em 2016, a dor e as doenças relacionadas a dor são as principais causas de incapacidade e de impacto na qualidade de vida das pessoas no mundo. No Brasil, um estudo de prevalência da dor crônica, conduzido em 27.345 indivíduos, observou que 76,17% apresentam algum tipo de dor crônica com duração superior a 6 meses. Dentre as dores citadas, a dor lombar crônica primária e a artrite reumatoide são as mais comuns.
A dor crônica apresenta múltiplos fatores causais associados, que podem ser de origem psicológica, física, social, emocional. Mesmo que a dor crônica tenha iniciado por um fator específico, como por exemplo, uma lesão nos nervos, os outros fatores (emocionais, físicos, psicológicos, social) podem interferir na intensidade, na duração e nos efeitos da dor. Como vários fatores interferem na dor crônica, o tratamento multimodal tem sido o mais indicado nessas condições, uma vez que combina a farmacoterapia com terapias restaurativas, complementares e integrativas. Isso significa que o paciente, além dos remédios indicados para aliviar a dor, precisa adicionar a sua rotina outras atividades que ajudem no seu manejo, como por exemplo, acupuntura, exercícios físicos, uma dieta balanceada, suplementos alimentares, entre outros.
A dor por ser subjetiva e variável entre os indivíduos é uma das condições mais desafiadoras para o tratamento assertivo. É importante ressaltar que a dor aguda é fundamental para a nossa sobrevivência, enquanto a dor crônica é uma doença que incapacita os indivíduos e que vem crescendo sua incidência mundialmente. Logo, diferenciar a dor aguda da dor crônica é um dos primeiros passos para melhorar a abordagem do tratamento.
Autor: Carolina Parga
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